Prólogo
Quando eu cheguei na aldeia durante segundos não acreditei no que vi. A caça caiu no chão quando eu não acreditei, sujando de terra a comida escassa. Levantei a cabeça de novo para olhar, tive certeza que era real.
Foi como se o propio deus do ar tivesse varrido toda a aldeia, mas logo vi que era coisa de um humano, apenas homens velhos e crianças sobraram em torno dos mortos, nunca vou me esquecer do barulho do choro das crianças, lembro de ter pensado: Nunca vô te um pesadelo pior que esse momento.
O grupo de caça se desperçou procurando seus parentes. Eu fui atraz de pegadas, de onde eles vieram? Para onde Japê foi levada? Não foi dificil de achar, as pegadas grotescas sequer foram apagadas era como se quisesse que eu os perseguisse e este não pareceia ter sido o primeiro dia.
- O que procura Dijê?
- Eu vou atraz deles velho.
- Então deixa eu te preparar.
Não tinha muito tempo, o grupo de caça ficou longe demais, percorremos os caminhos mais longos e agora eu entendo por que a caça se afastou tanto. Esses malditos demónios
Enquanto eu atravessa a aldeia em busca de armas, me falaram de um deles que tinha se machucado. Ele amarrado de forma até bem confortavel, fazia medo para quem se aproxima-se gritando e batendo na maldita couraça reluzente deles, parecia que imitava um Deus. Enfiei a lança de caça na coxa dele, não tinha mais sentido ela ser de caça. Ele gritou feito um porco. O sangue que espirou dele me deu uma certa paz, mas eu lembrei dela, do cheiro de quando me beijava, durante os dias de caça eu senti esse cheiro todos os dias quando acordava, todos os dias. Sem pensar muito eu me vi girando a lança e empurrando ela ainda mais dentro da coxa dele. As senhoras assustadas calaram a boca quando eu disse: " O maldito sangra e vai ser morto". Puxei a lança com força o grito de dor dele me fazia feliz. Continuei a caminhada mas dessa vez com o meu novo amigo branco sendo arrastado pelo cabelo, atravessei mais uma vez a aldeia joguei ele bem no meio enquanto via inumeras crianças me olhando querendo uma explicação de como um mundo inteiro pode ser destruido assim, eu não tinha essa resposta e continuei. Peguei o arco enrrolei em algumas cordas o maximo de flexas que eu poderia carregar. Deixei a lança perto do meu novo amigo, sem disser nada eu atirei nele uma flexada que perfurou a mão esquerda, enquanto ele gritava de dor eu tirei o capacete dele, derrepente ele começou a chorar, a chorar!! O homem que destruiu toda a minha aldeia pensa que é humano. Eu ri quando vi aquilo, um fraco que implora por sua vida, deixado pelos seus companheiros demónios. Antes de qualquer coisa so preciso ter certeza de para onde vou, fui de novo nas pegadas eles rumam para o sul daqui a dois dias de caminhada há um grande rio, eles precisaram de três dias de caminhada.
O velho me chama quando estou atravesando mais uma vez o centro da aldeia eu grito para que as velhas ainda não matem ele, elas olham para mim com ódio no olhar, elas não veem medo em mim. O velho começa a cantar e defumar uma fumaça que nunca tinha sentido antes, lembro do cheiro do corpo dela, era diferente nunca encontrei cheiro igual, nunca encontrei cheiro igual, nunca me esqueço dos olhos dela, o meu corpo banhava ela de suor, ela me beijava e ria do meus olhos apaixonados.
Guribê entra sem pedi permissão ao pajé.
- Onde tu vais?
- Atras deles
- Tu ta indo atras dela
- Sim
- Vamo embora daqui, olha o que aconteceu vamo reconstruir tudo longe daqui vamo embora.
- Sim, voces vão e construam para depois do rio as costas da aldeia. Te lembra que o rio é longo e de dificil atravessar os velhos sabem como fazer, esperem o resto da tribo lá.
- Mesmo que tu consiga chegar nela, tu não vai voltar
- Eu sei.
- Mesmo assim ta indo!
- Quando penso, em nada muda meu ver, em nada muda..
- Podes morrer...
- Cala-a-boca caralho! Leva o que restou da aldeia. Do meu destino não tenho medo isso que me da força. Quando tu fala só me da vontade em ficar longe de ti ou te matar.
Toda a conversa não desconcentrou o velho que olhou nos meus olhos e disse: Tu vai ter um pedido pra fazer, água e ao vento. Toma não leva teu tacape, leva esse se o dono aparecer entrega pra ele e olha nos olhos dele quando fizer.
Não costumo ir contra as vontades ou conselhos do velho e hoje não foi diferente. Fui até o centro da aldeia, de frente pro branco desenhei a aldeia e perguntei a ele para onde os demónios foram ele apontou pru norte, vi uma certa honrra nele, entreguei meu tacape a velha, que girou a arma e afundou o cranio dele.
Flexas, arco, tacape. O velho amarrou em meu braço uma fina corda longa, deu umas sete voltas no meu braço, cheguei no limite da aldeia olhei para cima, nuvens se formavam e eu pedi para que chuvese por dois dias, ainda escuto o barulho dos trovões quando dei o segundo passo para fora e uma chuva forte começou a cair. Lembro dela dançando na chuva, rindo por que dançava na chuva, aquele sorriso me mostrou o caminho do meu propio coração.
